Cresci com minha mãe dizendo que eu era sua amiga e acabei levando isso a sério demais.
Apesar de ter uma boa relação com minha mãe, eu não consigo agir como filha.
Por muito tempo fui a única filha, pelo menos até meus 13 anos e, nesse meio tempo, passei por muitas coisas com minha mãe e acabei me tornando a única companhia dela e quem ela considerava família também, por conta disso, nós conversávamos sobre quase tudo, inclusive sobre o seu passado.
Infelizmente, a história da minha mãe não é muito bonita, sempre com ódio, desrespeito, obsessão e pessoas difíceis (para não dizer ruins) ao seu redor. Ela nunca teve uma relação boa com minha avó, apesar de hoje ela (minha avó) agir como se nada tivesse acontecido. E como passei uma boa parte de minha infância com ela, eu entendi o porquê de minha mãe não gostar tanto dela.
Como disse, minha mãe e eu passamos por muita coisa, e por ela não ter ninguém, ela conversa sobre as situações comigo e falava com frequência que eu era uma amiga para ela, além de filha. Graças a sua infância difícil, ela tem dificuldade em demonstrar carinho; isso, juntamente ao fato dela dizer que eu era muito carente e grudenta na infância, me fez entender que ela não gostava de toque físico, então, a medida que crescia, fui parando.
Sei que minha interpretação sobre isso foi meio errada, porque hoje em dia ela procura em mim um amor, que ela não consegue enxergar que existe. Sempre achei que minha mãe veria meu amor por ela através de atos, mas esqueci que muitas pessoas que a "amavam", faziam o mesmo e que, talvez, ela não consiga mais acreditar em atos de serviço ou tem dificuldade com eles.
Por conta de sua história de vida, eu interpretei que tinha que ser um suporte e não um peso. Então, coloquei na minha cabeça que tinha que fazer por onde aliviar, se ela estivesse cansada, eu limpava a casa inteira e fazia comida, mesmo indo dormir tarde e tendo que acordar cedo no outro dia; não saia nos finais de semana porque ela estava cansada, então eu tinha que ficar com meus irmãos; não pedia dinheiro e nem para ela comprar nada para mim, porque ela já tinha meus irmãos e as contas para pagar. Acabei assumindo o papel de agregada da família, mas não parte da família.
E mesmo com isso tudo, minha mãe achava que eu não a amava, porque faltava palavras que afirmassem ou gestos. A verdade é que eu daria minha vida por ela e sei que ela faria o mesmo por mim. A partir de hoje vou fazer por onde demonstrar tudo isso por ela, de pouquinho a pouquinho até melhorarmos nossa relação, porque até a comunicação está nos faltando.